12.12.09

Faz de conta


"Vem…senta-te comigo e distrai-me, faz-me esquecer o lugar onde me encontro, as razões que aqui me trouxeram.
Brinquemos de faz de conta…
Faz de conta que sou grande, que fiz muitas asneiras, que cometi erros e este é o castigo que me calhou em sorte.
Faz de conta que não tenho três anos e percebo aquilo em que os meus pais acreditam, que sei o que é o conceito de Deus e das provações que ele coloca à minha fé, que tenho idade suficiente para me resignar com a injustiça da vida, que sei o que é a força de vontade e entendo quando me dizem que preciso de ser forte e lutar.
Faz de conta que sei porque não posso brincar lá fora, correr livremente e dar muitos beijinhos aos meus pais, que sei o que estas pessoas em meu redor fazem com todos esses objectos que tantas vezes me magoam…
Faz de conta que não vês todas as batalhas perdidas por mim nesta luta, presentes no meu corpo, que não vês as marcas de seringas, as nódoas negras, o meu ar pálido e cansado.
Vem, brinca comigo! Faz de conta tu agora…faz de conta que sabes o porquê de eu aqui me encontrar, que sabes dar-me razões minimamente aceitáveis para eu ter que enfrentar tão dura disputa em tão tenra idade.
Faz de conta que sabes o que o amanhã me reserva e que não tens medo de quando cá voltares daqui não me encontrares por saberes que o único motivo justificável da minha ausência será o facto de finalmente poder ter ido para casa e começar a conhecer o mundo.
Anda! Brinca comigo de faz de conta! Pois no mundo de faz de conta tudo pode ser como nós queremos, a vida faz sentido, as respostas são fáceis e claras, os sorrisos abundam e eu sou saudável…"


(eu tentei...não sei se deu muito resultado mas...)

5.12.09

Lá...aqui...

Lá onde a escuridão reina e o silêncio é dono e senhor, onde os ecos das falas, dos pensamentos e das ausências são abafados e engolidos pelo vazio…
Lá onde a temperatura é sempre amena independentemente da chuva que violentamente martela o vidro da janela ou que cai de mansinho e leva consigo todas as dúvidas, receios, incertezas, desilusões e frustrações, do vento que tantas vezes me assobia ao ouvido conselhos por vezes esquecidos, do sol que teima em se querer esconder por entre as nuvens, envergonhado, não querendo mostrar todo o seu esplendor…
É para lá que eu caminho, é para lá que eu corro…
Aqui, onde chego, me reencontro e reaprendo a ser novamente apenas e só eu, aqui mais ninguém tem permissão para entrar, reina a paz e sossego, todas as vozes cessam, todos os problemas se desvanecem, a vida corre sorridente…
Aqui, neste lugar que o resto do mundo desconhece, colo uma vez mais todos os cacos que me definem, respiro fundo e procuro a inocência perdida a ingenuidade de outrora, forças para enfrentar a vida lá fora…
Aqui não preciso de fingir sorrisos, de deter lágrimas, de me esconder do mundo, posso simplesmente ser eu…por isso não me peças que abandone este meu cantinho encantado e enfrente o cinzento da vida, não me peças que me levante e dê a outra face para a vida me maltratar…
Não me chames! Pois assim não ouvirei a doce melodia do silêncio. Não digas que aqui não me posso refugiar…Dá-me apenas mais cinco minutos e eu prometo dar-te mão e regressar então contigo.