11.6.10

devaneio II

Quando a noite cai, quando o silêncio deixa de ser abafado pelo barulho do dia e a solidão reina…tento reencontrar-me e redefinir-me no escuro do meu quarto. Tento recuperar os traços, por mim mais queridos, de uma personalidade perdida…
Depois de tantas batalhas travadas, de tantas encruzilhadas e percalços enfrentados, perdi-me de mim própria e hoje sou incapaz de dizer quem ou como sou! Não lamento nenhuma das duras batalhas, de todas sai vencedora, com todas aprendi e cresci. Cada uma ensinou-me que sou mais forte do que acho ou do que pareço, contudo cada uma levou consigo a pouco e pouco, talvez, o que de melhor havia em mim…
Hoje apenas lamento a perda daquela menina ingénua que via o mundo a cor-de-rosa, dava sempre o melhor de si sem olhar a quem e acreditava no melhor das pessoas. Hoje lamento não conseguir mais olhar para alguém não estando de pé atrás sobre as suas reais intenções, não ter vontade de ajudar só por ajudar e sentir me bem com isso… Lamento ter perdido o dom (se alguma vez o ouve) de instantaneamente conhecer as pessoas, de as escutar e ajudar como puder…
Vejo-me incapaz de investir em novas relações com medo de novamente sair desiludida, afasto-me mais e mais das que já existem e isolo-me no meu mundo vazio de vontade e cheio de apatia…Certezas diluem-se e vejo-me a aceitar e a perdoar atitudes que antes não seria capaz…
Não sei dizer quem sou nem quem não sou, não sei de onde venho, onde estou nem para onde vou…
Lá fora o sol nasce, mais uma noite que termina sem que eu tenha conseguido ser bem sucedida na minha demanda.


"Que a coragem não me falte, ao acordar
Que o olhar não se turve, se chorar
Que os ombros não se curvem, se pesar
Que o sorriso não esmoreça, se gelar
Que o meu passo não vacile, se doer
Que o sonho não desista, se sofrer
Que as mãos não se fechem, se perder
Que o medo não me vença, se vier
Que, enfim, o dia nasça devagar
E a lua, devagar, vá descansar
Que eu preciso de mim para viver
E não passo sem aquilo que sei ser."
Maria Carrilho

10.6.10

Ausência



"Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?"