4.2.11

O que o meu silêncio esconde

Pedes-me respostas, que quebre o silêncio que nos últimos meses me blinda sem jamais perceberes que nele residem todas as respostas, sem sequer notares que talvez este exprima algo inenarrável.
Ofereces-me o teu ombro para desabafar, reafirmas promessas antigas e no entanto mostraste incapaz de verdadeiramente me consolar, com o mais simples dos gestos. Não percebes, ou talvez não queiras perceber o que o meu silêncio esconde.
Olhas-me nos olhos mas não me vês, contentas-te em saber o que se passa de forma superficial e desinteressada e tão pouco te dás ao trabalho de procurar compreender, bem lá no fundo deles, esta súbita ausência de palavras.
Não me peças que explique (ou que pelo menos o tente fazer), o turbilhão de emoções que a minha boca aprisiona, não tentes descortinar o meu silêncio nem o estranhes, se em troca não estiveres disponível para marcar a diferença entre o quebrar ou não.
Saberás tão bem como eu, se já algum dia to permitiste experimentar a veracidade desse lugar-comum que se torna dizer, que temos a mais longa das conversas numa troca de olhares silenciosa, onde o reconhecimento de que realmente a pessoa que nos mira nos conhece e nada mais se torna necessário que apenas a certeza de nos sabermos acompanhadas independentemente do que se tenha de enfrentar.
Dizes notares-me estranha, distante e fria, perguntas-me enfim o que encobre o meu silencio…encobre talvez alguém que começa a mostrar sinais de cansaço na crença ate agora inabalável para quem era ou não importante, esconde a ausência de forças para continuar a dar sem em troca, algo receber…
Se ainda não o percebeste ele diz-te que prefiro não investir, refugiar-me em mim e recusar-me a precisar de alguém com quem partilhar os meus problemas mesmo que estes se tornassem, talvez assim mais suportáveis.
Se me conheces minimamente saberás que não é o rancor, egoísmo ou o egocentrismo que me move mas apenas uma necessidade cada vez mais premente de auto-preservação e de me pôr em primeiro lugar em detrimento do outro…




" O único silêncio que perturba, é aquele que fala, e fala alto. É quando ninguem bate à nossa porta, não há emails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica, e mesmo assim você entende a mensagem."
Martha Medeiros

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