24.5.12

Velho - Mafalda Veiga



De todos os públicos-alvo com que a formação no meu curso (ou deverei dizer antes da minha profissão, agora que estou oficialmente licenciada?) permite lidar, a Terceira Idade seria a minha última opção se me pedissem para escolher, não sei explicar bem o porquê: talvez por não estar habituada a ter que lidar no meu dia-a-dia com idosos ou quem sabe por uma má experiência no meu passado.
Assim quando tive que escolher onde estagiar tal, na minha cabeça nem era uma opção, contudo como a vida gosta de me relembrar constantemente, nem sempre as coisas acontecem como eu quero ou planeio e dei por mim durante três meses e meio a conviver diariamente com este grupo etário.
Apesar de durante três anos ter tido formação (e por vezes tão específica) sobre o que muitas vezes representa "ser-se idoso" hoje em Portugal, e iniciar esta etapa, sabendo supostamente, à partida que tipo de realidades e problemas iria presenciar, nada disso me ajudou a saber lidar com o turbilhão de sentimentos que vivencia-los provocou em mim.
A solidão, o isolamento, a pobreza extrema e sobretudo a indiferença familiar são recorrentes entre os mais velhos que muitas vezes se sentem "perdidos" nesta sociedade que valoriza cada vez mais a juventude e não vê (ou não quer ver) as pessoas que com o seu suor e trabalho contrubuíram para que esta funcione minimamente.
Fui educada a respeitar os mais velhos, a valorizar as suas ideias e opiniões pois seriam mais sábios que eu e talvez seja por isso (ou se calhar até não) que me custa a aceitar que uma pessoa cada vez mais tenha um prazo de validade, seja constantemente ignorada pela sociedade mas principalmente pela família pois há muito que me oriento por esta pergunta (para mim tão elementar): se é a minha família que me apoia e guia até eu sentir a coragem suficiente para "voar sozinha", não deverei eu, tentar retribuir minimamente quando ela de mim mais precisar?
No fim do estágio dei por mim a olhar para o idoso anónimo que comigo se cruza em qualquer rua perdida de outra forma, com mais respeito, com mais carinho e sobretudo com mais atenção.
 Hoje posso dizer que o meu estágio permitiu, mais do que uma oportunidade para praticar o que anteriormente aprendi, permitiu-me crescer enquanto pessoa, rever os meus valores e as minhas escolhas, recordar a filha que sou e pretendo ser, lembrar-me que num futuro não tão distante serei eu a ocupar aqueles bancos e a contar histórias.
Hoje deram-me a conhecer esta música e o objectivo deste post seria apenas partilha-la (já que traduz tão bem a actualidade) e pedir-vos que reflictam sobre o assunto, mas dei por mim perdida em reflexões (se calhar não muito claras) sobre a minha opinião neste assunto.


"Qual seria a sua idade se  você não soubesse, quantos anos você tem?"
Confúcio

9 comentários:

  1. Respondendo à pergunta do Sr. Confúcio - eu seria bastante idosa :)

    Quanto ao texto - sabes, as coisas nem sempre são o que parecem à primeira vista. Alguns abandonos vêem de trás, dos proprios pais para filhos. E depois os pais envelhecem e ficam sós. Mas no geral concordo contigo, a sociedade é madrasta relativamente aos mais velhos.

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  2. Ana por acaso já me interroguei varias vezes porque a própria família deixa de se importar com as pessoas que os criaram, com as que educaram e acarinharam. Porque há tantos filhos a deixarem os pais em lares e nem uma visita fazem, nem sequer um beijo ou um abraço vão presentear ou até mesmo ver as condições em que eles se encontram. É triste ver esta realidade. Jamais quero ver os meus pais afastados de mim, farei de tudo para que eles estejam bem e visitarei-os sempre que possível. Pois amor de pais ninguém pode substituir. Sei que enquanto eles andarem pelo pé deles, não precisarei de me preocupar em lares e afins, mas sei que um dia se por alguma razão a saúde lhes faltar e tiverem de ir para um lar, terei de o fazer, pois tenho a minha vida e não poderei tomar conta deles como fizeram comigo, mas não será por isso que os vou abandonar ou deixar de os visitar e dar um carinho. Porque eles foram as pessoas mais importantes e a quem devo muito.

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  3. Ana, eu concordo com você!
    A sociedade não valoriza e não cuida de seus idosos. Agem como se eles já tivessem cumprido a sua tarefa e não servissem mais. Isso é muito triste e demonstra uma falha muito grande, da qual todos nós seremos vítimas. Sem considerar se foram boas pessoas ou não, isso não importa. Eles cumpriram um papel na sociedade enquanto jovens e agora enfrentam as fragilidades da velhice. Temos a obrigação de ampará-los.
    Gostei do texto. Boa reflexão!
    Beijinho :)

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  4. Entendo-te bem, também é um grupo etário com o qual não gostaria muito de trabalhar. A minha avó teve de ir para um lar e todos os fim de semana lá ia e vi a minha mãe diversas vezes ir falar com outras pessoas que lá estavam e era incrível a solidão em que elas viviam porque os filhos só se lembravam no Natal. E a felicidade que se notava cada vez que tinham alguém para falar.
    É triste as pessoas serem tão maus filhos. Eu tenho um óptimo exemplo da minha mãe e um péssimo do meu pai e graças à minha mãe sei que vou lá estar quando ela precisar tal como ela está agora quando eu preciso (:

    Como fizeste o curso sem ir a exames? :/

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  5. Essa é triste realidade de Portugal e não só... É muito triste ter que morrer na própria solidão depois de ter construído uma história.

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  6. É uma vergonha o qu se passa na nossa sociedade e este caso é daqueles que não arranjando soluções somos parte do problema. É bom saber que há pessoas como tu.

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  7. Desde que presenciei algumas situações dessas complicadas, olho os "velhos" com muito mais carinho e sensibilidade...

    Beijinho*

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  8. Ah! Sim na minha também é assim mas na altura da 2ª frequência digo sempre exames xD

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