Desde que me lembro de ser gente que fui educada na fé católica, fui baptizada, frequentei assiduamente a catequese, e apenas não sou crismada (porque o sr. Bispo da minha Diocese teima em não vir à Freguesia e o Pároco da mesma teima em "não deixar" os fiéis fazê-la fora dela).
Não sou uma devota acérrima, tenho a minha própria visão da fé e de Deus, acredito piamente que tem que existir algo maior que me guie e dê um mínimo sentido a esta vida por vezes tão injusta. Tento, todos os dias agradecer aquilo que tenho, aquilo que conquisto/alcanço ao mesmo tempo que peço orientação para os meus passos e protecção para todos aqueles que me amam e que amo...
Acredito que cada um seja livre de ter (ou não) a relação com a religião que desejar e por norma sou bastante reservada no que toca a este assunto, contudo se hoje toco no mesmo (e o faço de uma forma tão pública) é apenas porque a minha relação com esta, nunca esteve tão tremida e uma vez mais procuro colocar alguma ordem na confusão em que a minha cabeça e o meu coração se encontram.
Quando se perde alguém é difícil aceita-lo (exista ou não fé), as palavras são ocas e muitas vezes apenas mais um lugar comum, a procura por algo ou alguém que nos conforte é inevitável (ou pelo menos foi-o para mim)...
Contudo, a aceitação e o tão almejado "seguir em frente" tornam-se extremamente difíceis quando quem representa a religião que sigo se mostra de uma insensibilidade atroz e tamanha falta de tacto (sobretudo quando supostamente lida com questões como a perda e o luto tão regularmente), que nada melhor tenha a dizer, durante o sermão de uma missa de primeiro mês, do que apenas e passo a citar "o seu tempo aqui na Terra chegou ou fim", "nada mais precisava de dar" ou "os seus dias estavam contados", como foi hoje tantas e tantas vezes repetido.
Tenho dificuldade em lidar e aceitar a morte, sobretudo assim, repentina e tão cedo, de alguém que ainda tinha tanto para viver. Como tal nunca tentei informar-me mais sobre o assunto e confesso que apenas sei o básico defendido pela fé católica: que a devemos aceitar e acreditar que a pessoa que parte, será absolvida de todos os seus pecados e como tal acolhida junto ao Senhor, todavia não acho de todo que o discurso hoje proferido por este representante da igreja tenha sido o mais adequado para qualquer um dos pais, familiares e amigos ali presentes e que apenas tentam de qualquer forma aplacar a dor.
Na impossibilidade de ter uma resposta à pergunta que não cala no fundo da minha mente (porquê), apenas gostaria de receber palavras que de alguma forma transmitissem a mim, mas sobretudo aquelas famílias enlutadas hoje, ali presentes, algum alento, por mais ínfimo que fosse...
Assim torna-se difícil seguir activamente uma fé, onde os párocos me parecem tão mal preparados.
Peço desculpa pelo desabafo enorme e confuso a quem me lê, mas este espaço é primeiramente meu, e tal como o nome indica, é apenas e só o meu reflexo.
"Há uma única religião, embora haja centenas de versões da mesma."
George Bernard Shaw
A ti, que provavelmente te ririas de todo este "filme",
que me moirias o juízo com todos os teus argumentos
racionais e lógicos, contra cada um dos meus emocionais
e espirituais...
espero sinceramente que estejas melhor onde quer que estejas,
que a minha teimosia prevaleça sobre a tua e que um dia,
seja lá quando e onde for,
nos possamos reencontrar e falar sobre o tanto que ficou por dizer...